Provérbios 18.10
por Lucas Freire
“O nome do Senhor é Torre Forte;
O justo foge para ela e está seguro” (Provérbios 18.10)
“O nome do Senhor”! Seria difícil começar uma declaração sobre o Refúgio divino de forma mais firme do que esta. Sendo muito mais do que um manual moralista de “faça isto e não faça aquilo”, o livro de Provérbios apresenta diversas coleções de poemas que ensinam sobre o motivo profundo pelo qual se deve “fazer isto e não fazer aquilo”: a inclinação de um coração para o seu Criador da qual procedem as “fontes da vida” (Pv.4:23). E, então, no meio de diversos contrastes entre o caminho do mundo e o caminho do servo de Deus – ou seja, no meio de uma comparação entre as duas inclinações possíveis do coração humano, Salomão inclui este verso.
Temos, aqui:
1. Uma descrição do nome de Deus – uma Torre Forte
2. Como o justo reage ao saber disto – foge para esta Torre
3. A graça que o Senhor concede – segurança
Notemos, em primeiro lugar, que o nome do Senhor denota imponência e força. Com isso eu quero dizer que a descrição que Salomão dá associa o nome de Deus a uma marca de grande poder.
Com efeito, poucas coisas são mais importantes do que conhecer o nome do Senhor. Não é à toa que Ele inclui na Sua Lei a proibição de se tomar esse nome em vão. Nem é por acaso que o nosso Senhor Jesus Cristo inclui a santificação desse nome como a primeira petição de uma oração-modelo. Mas ele o faz após dizer “Pai nosso que estás no céu”. Não é exatamente isso que repete aquilo que Moisés experimentou ao perguntar o nome de Deus diante da sarça, ou arbusto, que queimava sem se consumir? Não foi exatamente esta uma experiência de separação intrínseca entre o Senhor, o Criador; e nós, Suas criaturas? Mais ainda, não é exatamente isso que podemos entender por “Senhor – Torre Forte”?
Ora, de fato, “Senhor” não foi o nome que Deus revelou a Moisés. Pelo contrário, “Senhor” emerge na história do povo de Deus como a primeira reação ao fato de ser Ele uma “Torre Forte”. O nome verdadeiro de Deus é deveras importante para ser falado a toda hora e, por isso mesmo, Ele é aqui chamado de “Senhor”. Diz-se que este nome corresponde a uma “Torre Forte” exatamente porque é esta a reação que temos diante da imponência deste nome. Diante de uma Torre Forte cabe-nos temer e tremer!
O temor relativo à imponência e à santidade de Deus nos leva a olhar para nós mesmos e a perguntar: “quem”, afinal, “habitará no monte do Senhor?” E a resposta nos faz corar de vergonha: “O que vive com integridade e pratica a justiça” (Sl.15:1-2). Oh! Como esta Torre nos faz tremer ao percebermos que tal integridade e justiça é exatamente o oposto daquilo que todos nós somos e seremos por nossos próprios méritos! As acusações contra nós mesmos estão por toda parte. Nada há que possamos fazer diante da pureza e da grandiosidade do Senhor. Portanto, a primeira reação ao nos encontrarmos com essa Torre Forte é uma sensação de diferença profunda entre aquilo que somos e aquilo que Ele é. E, se pararmos por aqui, concluiremos que nada mais nos cabe, a não ser o julgamento inevitável que deve necessariamente descer sobre nós por causa daquilo que somos.
Mas isso é uma parte da história. A outra parte é que “Torre Forte” também pode representar proteção, caso corramos para ela ao invés de correr dela. É aqui que a inversão ocorre. É aqui que o “justo” aparece com a reação inesperada de “fugir para ela”. Notemos, então, em segundo lugar, que o nome do Senhor é o único refúgio verdadeiro.
Ora, fica claro aqui que quem foge para esse Refúgio é o “justo”. Mas sabemos que ninguém é justo – como se diz: “todos pecaram” e “não há um justo sequer”. Portanto, entre a primeira reação (fuga de Deus) e a segunda (fuga para Deus) algo de maravilhoso acontece, necessariamente. Trata-se da percepção de que fugir para nenhum outro lugar (além do mais para o senso de justiça própria!) resolverá o problema. Trata-se da percepção de que é necessário render-se a essa Torre Forte. Trata-se de nada menos do que a declaração de que o injusto inicial passa a ser um justo - e isso exatamente porque ele percebe ser um injusto e não encontra solução em mais nada, senão no próprio Deus.
Sim, é exatamente isto que acontece: um injusto é tomado por justo não por causa dos próprios méritos, mas porque mudou a inclinação do seu coração. Ao invés de se inclinar contra Deus, agora se inclina para Deus. Isso jamais seria possível se não fosse o próprio Deus concedendo o dom da fé salvadora. “Isto não vem de vós, mas é dom de Deus para que ninguém se glorie”. A dívida continua, mas Alguém pagou por ela. Ora, não é verdade que do nome de Jesus Cristo se diz que “é o único nome pelo qual importa que sejamos salvos”?
Assim, quando alguém vê que, diante da imponência e da santidade do nome do Senhor nada mais há para fazer, senão admitir a própria incapacidade e correr, com fé, para essa Torre Forte, é exatamente aí que essa pessoa passa a ser chamada de “justa”. E é exatamente por causa da justiça de outra pessoa, do próprio Deus na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo, o Redentor, que o nome do Senhor passa a representar refúgio contra todo o resto. Refúgio contra a condenação da nossa injustiça.
Logo, em terceiro lugar, pode-se dizer que o nome do Senhor é o Socorro do Justo. Sabemos que ninguém é justo, se não for assim declarado pelo Senhor por causa dos méritos de Jesus Cristo. Sabemos também que esse justo corre para a Torre Forte em busca da solução que nada mais tem a capacidade de oferecer. Agora, o que a Palavra de Deus nos declara é que essa solução é obtida exatamente onde o justo a espera obter. É o nome do Senhor que é o socorro do Justo.
Não é o nome de alguma igreja ou denominação.
Nem é o nome da moralidade própria.
Nem mesmo é o nome dessa decisão de ir até o Senhor.
Não, nada disso. A última coisa que podemos entender aqui é que o socorro e a segurança que o justo obtém é fruto de seu esforço próprio. Ele nem seria justo se confiasse nessas coisas! Pelo contrário, o socorro que resulta dessa fuga para o Lugar certo deve ser visto como uma graça da parte do próprio Senhor. Um presente não merecido.
Essa segurança da Torre Forte não está sujeita a circunstâncias. O inicial já foi feito pelo próprio Deus. O condicional já foi executado pelo próprio Senhor Jesus. O permanente é, com certeza, mantido pelo próprio Espírito Santo. Deus fará o justo perseverar até o fim, completanto a obra que começou. Porque, como se diz, “Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, que com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si” (Is.53:11). Deus ficará satisfeito com a obra de Jesus pelos “muitos” que serão justificados. Jesus não fracassará. Deus há de guardar os Seus até o dia final.
Como está escrito, “nada poderá nos separar do amor de Deus, que está em Jesus Cristo nosso Senhor”. Nada mesmo! É por isso, e só por isso – por causa do próprio Deus – que podemos afirmar como o salmista:
“Deus é nosso Refúgio e Fortaleza:
Socorro bem Presente nas tribulações.
Portanto, não temeremos
Ainda que a terra se transtorne
e os montes se abalem no seio dos mares
Ainda que as águas tumultuem e espumejem,
E na sua fúria os “montes estremeçam” (Sl 46.1-3).
“Torre Segura para o justo” é o nome do Senhor. Você tem essa segurança? Saiba que é o próprio Deus quem a concede. Saiba que – ainda bem! – você não depende do seu mérito próprio, mas daquilo que Jesus fez na cruz, tomando o pecado sobre Ele. Saiba, por fim, que essa segurança é permanente porque Deus não fracassa naquilo que Ele próprio faz.
O nome do Senhor é Torre Forte. Viver em gratidão, lembrando-se dessa segurança eterna é infinitamente melhor do que viver, em culpa verdadeira, fugindo por confiar si mesmo e perceber que, diante da Torre Forte, o mérito próprio nada pode fazer.
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