Obadias é nome hebraico que significa "servo de Deus", nome comum
na época do profeta. Pouco se sabe da
vida desse escritor nas páginas bíblicas. Ele foi o quarto dos Profetas Menores
da Bíblia Hebraica, e o quinto na ordem apresentada pela Septuaginta.
Dos homônimos do escritor
que agora tratamos com certeza o mais célebre foi o mordomo do palácio do rei
Acabe (1 Reis 18.3-16). Desde a juventude ele era temente a Deus, durante a
perseguição de Jezabel aos profetas, ele escondeu 100 deles em duas cavernas.
Durante a seca, saiu a procurar pasto para os cavalos e mulas de Acabe e
encontrou-se com o profeta Elias, e então arranjou o encontro que provocaria a
competição entre os profetas de Baal e o único Deus verdadeiro, Criador de
todas as coisas.
A tradição babilônica alega
que Obadias, escritor do livro, seria o hebreu que trabalhou para o rei Acabe
ou o terceiro capitão dos cinquenta (2 Reis 1.13). Mas, cronologicamente, é
impossível identificá-lo assim, pois os fatos históricos apontam à existência
de um século inteiro separando essas duas pessoas.
O
escritor era contemporâneo de Jeremias.
Obadias
e o livro
Obadias usou linguagem
poética cheia de vivacidade e contundência ao escrever o livro que tem seu
nome, o menor entre os livros do Antigo Testamento - um capítulo com vinte e um
versículos. Ele escreveu procedendo do particular para o geral, do julgamento
de Edom para o julgamento universal, da restauração de Israel para ao
estabelecimento do Reino de Deus.
Embora o livro seja pequeno,
a obra possui o mesmo valor espiritual dos demais livros e cartas contidas na
Bíblia Sagrada, pois é parte da Palavra de Deus.. A data em que o livro foi escrito deve estar relacionada
com a época da tomada de Jerusalém, à qual se faz referência no versículo 11. Pelas
circunstâncias indicadas, o profeta deveria estar presente em Jerusalém quando
ocorreu a investida babilônica, e a conquista da Cidade Santa, durante o
reinado de Nabucodonosor.
O livro de Obadias contém a
mesma profecia do livro de Jeremias, encontrada no capítulo 49. As mensagens
são dirigidas contra os edomitas, antigos inimigos de Israel, aos quais o
profeta acusa de ofensas graves.
O
perfil dos edomitas
Os mais antigos e maiores
inimigos dos israelitas eram os edomitas (Números 20.14.21). Eles eram
descendentes de Esaú e dos heteus, que por sua vez foram descendentes de Cão,
um dos três filhos de Noé, aquele filho que foi amaldiçoado por ver a nudez do
pai e não cobri-la, mas sair e contar aos outros irmãos (Gênesis 9.22-27;
26.34-35).
Edom era povo soberbo.
Estava situado em uma região de montanhas rochosas. Vivia em cidades com
irrigação farta e pastos mais que suficientes para o rebanho e manadas, a
localidade era inexpugnável. Os edomitas sentiam uma falsa segurança por morar
ali porque o local era de fácil defesa e de difícil ataque por parte dos
inimigos. Por causa disso eram orgulhosos, ao invés de serem gratos a Deus por
receber o benefício de viver em local de segurança geográfica (versículos 3 e
8).
Edom
versus Israel
Para entender o livro de
Obadias é preciso olhar para o contexto em que o profeta estava inserido. Ele
trata das relações de duas nações, mas se refere a ambas usando o nome de seus
antepassados.
Edom (Esaú) era ancestral do
edomitas. Esaú era irmão gêmeo de Israel. A luta começou antes do nascimento
deles. Gênesis 25.21-22 relata que “Rebeca (...) concebeu, e os filhos lutavam
no ventre dela”. Anos depois, houve entre os irmãos o caso da troca da primogenitura
de Esaú por um prato de lentilhas. Esaú após negociar com Jacó seu direito à
primogenitura desprezou não apenas a herança, mas a boa convivência com seu
irmão, que foi obrigado a fugir para longe da família (Gênesis 25.24-34).
Séculos antes de Obadias
nascer, Israel e Esaú, os dois filhos de Isaque, tiveram descendentes que
formaram as nações de Judá e Edom (os edomitas). E Deus ordenou a Israel que
não aborrecesse seu irmão, o edomita (Deuternonômio 23.7).
Apesar
do parentesco, ambos os povos guerrearam entre si.
Os edomitas tinham ânimo
pronto para ajudar todos os inimigos de Israel a destruí-los: 2 Crônicas 21;
25, 28, 36.
Quando os edomitas souberam
que Nabucodonosor atacaria Jerusalém, alegraram-se, e viram o ataque como
oportunidade de vingança e auxiliaram o exército babilônico. Com o objetivo de
humilhar seus adversários históricos, eles incitaram Nabucodonosor a exterminar
os israelitas e participaram de um ataque bem-sucedido contra Israel, que
destruiu a Cidade Santa. Atuaram cruelmente nos massacres e depois ajuntaram
despojos (Salmos 137.7; Obadias 11).
O profeta deve ter sido
testemunha ocular das atrocidades cometidas pelos babilônicos e edomitas contra
Israel, testemunhou o momento em que os "irmãos" dos israelitas
aproveitaram-se da vulnerabilidade deles, viu os maus tratos cometidos, as
armadilhas montadas, e ajudou os sobreviventes.
Cumprimento
profético
O cálice de iniquidades dos
descendentes de Esaú transbordou e Deus sentenciou por meio de Obadias a nação
a ser aniquilada para sempre. Cinco anos depois de Nabucodonosor atacar
Jerusalém, o próprio Nabucodonosor colocou o exército babilônico contra os
edomitas e os expulsou de suas terras. O dia da retribuição chegou para eles:
“como tu fizeste, assim se fará contigo”, escreveu Obadias (verso 15).
As predições com respeito a
Edom foram completamente cumpridas, provavelmente esse processo começou entre
588 a 586 a.C.. Quanto aos israelitas, a nação foi restaurada, teve suas terras
de volta e possuíram as terras de seus inimigos também. O caráter completo da
restauração de Israel é expresso pela especificação de sua expansão nas quatro
direções cardeais (versículos 19 e 20).
Depois da restauração de
Israel, Ciro massacrou milhares de edomitas. Eles também foram esmagados pelos
judeus nos tempos dos Macabeus. E séculos depois, após a crucificação de
Cristo, eles desapareceram para sempre, cumprindo-se o que disse Obadias:
“ninguém mais restará da casa de Esaú” (versículo 18).
Herodes,
contemporâneo de Cristo, era da linhagem dos edomitas.
O profeta declarou que os
edomitas seriam um povo como se nunca tivessem existido, desapareceriam
completamente. Esta profecia se cumpriu à risca. Após a destruição de
Jerusalém, no ano 70 d.C., o povo edomita desapareceu da história mundial.
Conclusão
Obadias é um livro pequeno,
mas que apresenta uma grande verdade. Deus retribui as ações desumanas e
arrogantes dos homens em seu devido tempo. Não importam quanto tempo se passe a
pessoa que agir de maneira perversa contra o próximo, seus atos não ficarão
impunes diante de Deus.
As linhas escritas por Obadias assinalam que na vitória
de Israel o Reino de Deus seria estabelecido, caracterizado pelo livramento e
santidade (versículos 17 e 21). Essa ideia é ampliada no Novo Testamento.
E.A.G.
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