Já conheci e também já ouvi falar acerca de pastores que
tratam suas igrejas como se fossem empresas. Outros são dominadores,
autocratas, perseguem aqueles que não compartilham de seus pontos de vista.
Tratam o rebanho como se todos fossem seus subalternos. Que visão deturpada de
ministério! Que visão míope para um chamado tão nobre! Para muitos pastores,
ser ministro do Evangelho é fazer parte de uma elite. Essas pessoas nunca
compreenderam sua vocação.
Fico impressionado com homens da envergadura teológica de
Karl Barth, que, com o renome que possuía, e com tamanha contribuição que deu à
Teologia, enquanto se dedicava ao magistério teológico em Basileia, na Suíça,
também se preocupava com o ministério da pregação em um presídio, e chegou a
dizer: "Entre as minhas atividades em Basileia ainda se deveria mencionar
que, para as minhas pregações ocasionais, a prisão local tornou-se nestes anos
o meu púlpito predileto. (Dádiva e Louvor, Ed. Sinodal, pág. 429). Isso é
servir. Na verdade, a ideia essencial de ministério no Novo Testamento é a de
serviço. E a grande inspiração do ministério de Deus é o exemplo de Jesus:
"Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir
e dar a sua vida em resgate por muitos".
Ministros servos
Há diferentes termos usados no Novo Testamento para se
referir ao trabalho pastoral, geralmente traduzidos para o português como
ministério. Todos enfocam a ideia de serviço. É muito bonito ler 1Co 4:1:
"Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de
Cristo..." . Ou também At 26:16: "Porque por isto te apareci, para te
constituir ministro...". O termo grego que aparece aqui é huperetes, cujo
significado sempre está ligado à ideia geral de serviço.
Huperetes era a palavra grega para designar aquele que rema,
portanto, o membro da tripulação de um navio. Mas referia-se também a qualquer
serviçal. O termo designa o oficial de justiça em Mt 5:25; os serventuários, em
Mt 26:58; o assistente na sinagoga, em Lc. 4:20, o servo auxiliar, At. 13:5; os
guardas em Jo 7:32. É como se Paulo dissesse: "que os homens nos
considerem como serviçais de Cristo". Muito bem traduz a Bíblia na
Linguagem de Hoje: "Vocês nos devem tratar como servidores de
Cristo."
Diákonos é outra palavra largamente usada no NT para se
referir ao ministério do homem de Deus. Quando Jesus disse que veio para
servir, Mt 20:28, usa um verbo que tem essa mesma raiz. O apóstolo Paulo
emprega essa palavra para falar dos ministros do evangelho em 2Co 3:6, etc. A
palavra diakonia aparece traduzida como ministério em 2Co 4:1; 5:18; 1Tm 1:12.
No grego secular, o termo diákonos significava servir à
mesa. O trabalho envolvia sujeição pessoal, que era considerada indigna e
indecorosa para um homem livre. Também poderia referir-se simplesmente a cuidar
das necessidades do lar e, às vezes, era também usado para indicar qualquer
trabalho num sentido mais genérico, como prestar serviço a uma causa. O termo
também foi muito usado no Novo Testamento para referir-se ao trabalho dos
diáconos na assistência social, 1Tm 3:10, 13; Rm 16:1; Fp 1:1; 1Tm 3:8, 12.
Ministros cooperadores
Dois outros termos que aparecem no NT, e com eles vou
finalizando este artigo, são synergon e leitourgon. Synergon, 1Ts 3:2,
significa trabalhar juntamente. O termo aparece em Rm 16:3; 1Co 3:9. A ênfase é
a do trabalho conjunto. O homem de Deus precisa conscientizar-se de que ele é
apenas instrumento. Ele planta a semente, vem outro e rega. Mas quem dá vida e
faz crescer é Deus. Portanto, do Senhor é a glória.
E, finalmente, o termo leitourgos, que está em Romanos
15:16; Fp 2:25. A princípio, indicava o ato de fazer obras públicas a próprias
expensas; fazer serviço para o povo. A forma mais antiga do termo é composta de
laos (povo) e ergon (trabalho). Daí é que veio esse significado.
Na Septuaginta, tradução do AT para o grego, a palavra
refere-se ao serviço dos sacerdotes e levitas no templo. No NT, em Hebreus, o
termo é usado no sentido ritual sagrado. Veja Hb 8:2. Paulo o utiliza em Rm
15:16, onde parece ter um significado semelhante ao empregado no AT, indicando
um trabalho sacerdotal do apóstolo, levando os gentios a Cristo. Em Fp 2:25,30,
o termo indica cooperador, ajudador. O ministro é um leitourgos porque cabe a
ele fazer discípulos, cuidar desses discípulos e levá-los ao crescimento na fé,
para que se tornem semelhantes a Jesus.
Portanto, o pastor é um servo que gasta sua vida para ajudar
a promover o crescimento do Corpo de Cristo: "E ele concedeu outros para
pastores e mestres com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho
do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo", Ef 4:11-12. Seus
interesses vão muito além daquilo que pode nortear o trabalho de qualquer
profissional.
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