quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A Síndrome de Pinóquio

Marisa lobo – Livro Por que as pessoas Mentem

Quem nunca ouviu falar do menino de madeira, cujo nariz cresce quando ele mente? A história de Pinóquio é muito antiga. Foi criada em 1881, pelo escritor Mario Collodi, na Itália. Em 1939, o desenhista Walt Disney transformou-a em desenho animado, que recebeu dois Oscars, a maior premiação do cinema.


Na história, o boneco criado pelo artesão Gepeto sonha em ser um menino de verdade, mas para isso, sabe que não deverá mentir. Essa é uma exigência da Fada Azul, que joga sobre ele um encantamento: toda vez que Pinóquio mentir, o seu nariz crescerá e todos saberão que ele não está falando a verdade. O Grilo Falante, nomeado pela Fada Madrinha como seu conselheiro, ajuda o garoto durante a aventura repleta de perigos. Ele se transforma numa espécie de consciência.
Esta história, que já tem 70 anos, virou um ícone para crianças, jovens e adultos e mexe com o inconsciente das pessoas. Ela atravessou gerações e seu personagem principal tornou-se o símbolo ou a personificação da mentira.
Segundo a psicóloga Silvana Rabello, quando aprendemos a contar, a ler e a escrever, também aprendemos o que é a mentira. Passamos a entender as regras da moral, da ética e da boa conduta e começamos a diferenciar realidade e fantasia.
Quando somos crianças, ouvimos que, se mentirmos, nosso nariz poderá ficar igual ao do Pinóquio. Mas o que fazer quando os pequenos aprendem a mentir e começam a usar essa tática para se livrar de repreensões, tarefas desagradáveis e enganar os pais e colegas? Essa tendência de “dar uma de Pinóquio” é comum na infância e cada vez mais presente em adultos, que geralmente condenam a mentira. Isso tem se tornado comum em nossa sociedade, secular ou religiosa.
Mas para acabar com a mentira contada pelos pequenos, não basta dizer que se mentir seu nariz crescerá. É preciso conversar com carinho e convencê-los a dizer a verdade, custe o que custar. Uma mania inocente pode tornar-se um transtorno de personalidade difícil de controlar quando adultos.
Para as crianças, é mais fácil contar aos pais que foi o irmão mais novo quem quebrou o copo ou afirmar que foi bem na prova, quando na verdade tirou zero, do que assumir os seus erros e ser colocado de castigo.
Quando eu era criança, mentia descaradamente sobre minhas notas e brigas na escola, pois meu pai era muito severo e nos batia caso as notas não fossem boas. Não sinto orgulho disso, mas confesso que na época ficava aliviada por conseguir enganar meu pai; evitava punição. Hoje sei que era errado, mas era o que eu fazia. Eu não pensava em prejudicar ninguém, apenas pensava em não sofrer consequências.
Quando as crianças descobrem que a mentira pode livrá-las de possíveis punições, começam a usá-la para livrarem-se de reprimendas e situações desagradáveis. Por isso insistimos que, quando a criança diz a verdade, ela não pode ser punida e sim, repreendida com amor e explicação dos erros que cometeu, e da importância de contar a verdade, custe o que custar. Isso terá que ser exaustivamente ensinado e quando houver punição, deve-se deixar claro que ela está sendo punida pelo ato errado, pela mentira contada, e não por contar a verdade. Parabenize-a ao mesmo tempo por dizer a verdade, e sempre que ela fizer isso, deve ser elogiada; isso a motivará a sempre dizer a verdade.
Os pais devem observar o contexto da mentira contada por uma criança, e em alguns casos não serem tão rígidos. Crianças menores de cinco anos ainda confundem a realidade com a fantasia e podem inventar histórias sem fundamento. Em geral, essas mentirinhas são mais fantasias inocentes; mesmo assim, é preciso ficar atento à repetição dessas mentiras, com a quantidade e também qualidade, lembrando que mentira é sempre uma ilusão, algo que não existe e notar se este comportamento se intensificar.
Crianças com um pouco mais de idade começam a mentir para se isentar de culpas. Mesmo crianças que costumam agir com responsabilidade podem ter esse comportamento sem qualquer maldade. Porém, há aquelas que usam a mentira para tirar proveito das situações. Isso não é inocente e pode ser indício de uma patologia, de uma carência, de um problema emocional. Como profissional da área, oriento a levar a criança a um psicólogo. E mesmo sendo um caso inocente para a criança, na verdade o que ela está aprendendo é um engano: nesta idade, mentira nunca é inocente. Espiritualmente, sabemos das implicações e da importância de, na infância, ter uma boa educação.
As crianças aprendem com um modelo que têm em casa; elas são como esponjas, que a tudo absorvem com muita facilidade. Muitas crianças aprendem a mentir com os próprios pais. Isso acontece, por exemplo, quando eles pedem para os filhos dizerem ao telefone que não estão em casa, quando não querem atender tal pessoa. Os pais precisam entender que a confiança dos filhos está embasada em suas verdades. Se os próprios pais usam o artifício da mentira em suas vidas, seus filhos poderão vir a ser mentirosos; se o pai diz uma coisa e faz outra, o filho pode aprender a mentir para encobrir seus atos. Com medo das reações negativas que elas podem provocar em seus pais, as crianças mentem.

Disciplinando com mansidão os que se opõem, na expectativa de que Deus lhes conceda não só o arrependimento para conhecerem plenamente a verdade – 2Timóteo 2.25.

Artigo publicado na revista atalaia – 2009

Fonte: http://www.psicologiacrista.com.br/



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